O COMPARTILHAMENTO MUSICAL traz anotações informais sobre vários aspectos da música erudita. Aqui procuro encorajar você a explorar esse universo fascinante e a enriquecer sua experiência musical.
Já dei notícia de morte, mas essa é esquisita. Faz mais ou menos um ano e meio que a pessoa morreu! A demora foi porque eu só soube por esses dias, quando buscava um assunto para o Compartilhamento Musical 5. Falo do excelente violoncelista, Mstislav Rostropovich. E não fiquei menos triste por ter sabido de sua morte tardiamente. Abaixo, alguns trechos da matéria em O Globo de 27/4/07:
Mstislav Rostropovich foi uma das figuras culturais mais amadas da Rússia. Além disso, ganhou fama em todo o mundo como defensor dos direitos civis durante a era soviética. (...) Enquanto estava no exterior, em 1978, o Kremlin o destituiu de sua cidadania... (...) Dias após a queda do Muro de Berlim, Rostropovich levou seu violoncelo e embarcou a Berlim para fazer um concerto de improviso, não anunciado, ao lado dos escombros do muro. "Foi o que meu coração ditou," ele disse mais tarde.
O vídeo que sugiro hoje mostra Rostropovich tocando o prelúdio da Suíte No.1 para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach. Amo os sons graves do violoncelo! Além disso, esse é certamente um dos pedaços de música que mais me empolga! A peça é tão bem composta (e tocada)! Reparem como não há necessidade de nenhum outro instrumento acompanhando.
[Dica: Este vídeo está com o som um pouquinho baixo. Ouça do início com o volume um pouco mais alto que o comum.]
Este compartilhamento musical é um clamor junto aos "excluídos"! Calma, não estou virando um revolucionário rebelde!
Aos olhos do grande público, a flauta-doce é considerada um instrumento “simples”. Não é de surpreender, pois sempre as vemos nas mãos de crianças. Acho que quase todo mundo já ouviu aqueles “guinchos” horríveis. Geralmente, uma flauta-doce soprano de plástico é o primeiro instrumento musical de muita gente. (Foi o meu.) Por ser popular em iniciação musical e por haver tantos instrumentos de má qualidade (algumas flautas de plástico), muitos pensam ser um instrumento “simples”. Isso é uma pena, pois quem aprendeu a tocar de verdade aprecia sua sonoridade e o desafio que é tocá-la bem.
A flauta-doce evoluiu continuamente durante os séculos desde os tempos medievais até o fim do período barroco (mil setecentos e pouco). Só foi redescoberta há menos de 100 anos. Passou tanto tempo sem atenção porque depois do barroco ela não conseguiu competir com os novos instrumentos da época, com som mais forte, que compunham as orquestras.
O compartilhamento musical desta semana vem desmistificar qualquer estereótipo de “pequenez” que alguém tenha desse instrumento. Flautas-doces têm um som agradável, são instrumentos desafiadores para os músicos sérios, e são muito adequadas para tocar em conjunto. Escolhi o último movimento de um concerto para “flautino”, de Vivaldi. É tocado em uma flauta-doce sopranino, a menor de todas. Ouçam como é bem tocada! [Quem quiser saber mais, depois do link há informações adicionais.]
Abraço, Renato
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[Informações adicionais.]
1. Há vários tipos de flauta-doce. Dentre as principais, da menor (mais aguda, ou "fina"), para a maior (mais grave, ou "grossa"):
sopranino - usada no vídeo soprano - tamanho pequeno, muito usada para iniciação musical de crianças contralto - tamanho médio - É a que eu toco mais na igreja. Era a favorita dos compositores barrocos. Há bem mais repertório para este tipo de flauta-doce do que para os outros. tenor - um pouco maior. baixo - enorme, com som grave muito lindo
2. Há flautas-doces de plástico e de madeira. Há boas e ruins. As melhores de plástico têm um som aceitável, como as da série 300 da Yamaha. Tenho uma soprano e uma contralto dentro desta categoria. Há flautas-doces ruins de madeira, que não são melhores que as boas de plástico. Mas as boas de madeira, bem mais caras, são INCOMPARAVELMENTE melhores! (Um sonho de "consumo musical".)
3. Parte dos meus comentários foram pesquisados do site da Antique Sound Workshop (http://www.aswltd.com/), o qual tive a felicidade de encontrar recentemente. O Sr. David Green me ajudou a escolher uns livros de método de flauta-doce, que encomendei para aperfeiçoar a técnica e também para dar aula na igreja. Ele é professor há mais de 40 anos e tem muita informação interessantíssima lá.