No dia 1 de agosto de 2008, enviei o primeiro Compartilhamento Musical a cinco amigos. A coisa cresceu! Um ano depois, temos uma lista de emails com 167 destinatários e sei que alguns destes re-enviam os CMs a vários outros. Para comemorar um ano de CM, achei uma boa idéia revisitar a mesma obra que compartilhei no início: a Paixão Segundo Mateus, de Johann Sebastian Bach.
Uma “paixão” é uma composição musical sobre o sofrimento de Jesus Cristo. Várias “paixões” foram compostas, mas indubitavelmente a “Matthäuspassion” de Bach é a mais famosa e respeitada. O texto-base é o Evangelho Segundo Mateus. Um tenor, designado “evangelista”, narra os eventos bíblicos em estilo recitativo, que soa como algo entre o canto e a fala. Os solistas cantam as palavras de vários personagens bíblicos. Além disso, há também textos intercalados, cantados pelos solistas, que interpretam ou aplicam de modo pessoal as passagens narradas nos recitativos. Quando há vários falantes, o coro entra em ação, ora participando da narrativa bíblica, ora comentando-a.
No trecho que compartilho hoje, Jesus havia sido preso e levado à casa do sumo-sacerdote, onde procuravam condená-lo à morte. Do lado de fora, Pedro o segue de longe, quando desconfiam que ele é um dos discípulos. Pedro nega que é seguidor de Cristo e o galo canta, conforme Jesus havia predito. Pedro se retira e chora amargamente, arrependido.
A narrativa acima é apresentada em forma de recitativo, mas quero focar mesmo é no que acontece em seguida. Uma voz de contralto canta como se fosse o pranto de Pedro após negar a Cristo. É a ária Erbarme dich (Tem misericórdia de mim). Trata-se de um dos momentos mais marcantes da obra. A música é tão intensa que às vezes, quando escuto a introdução do violino solista, começo a olhar para dentro de mim e me confrontar. Eu diria com firmeza que é um dos momentos mais sublimes de toda a história da música. Você pode perceber um pouquinho da solenidade desse trecho no semblante de alguns músicos da orquestra no vídeo, logo após o evangelista cantar as palavras “...e chorou amargamente”.
Boa reflexão!
Evangelista – Jörg Dürmüller (tenor)
Pedro – Klaus Mertens (baixo)
Criada 1 – Cornelia Samuelis (soprano)
Criada 2 + solista em Erbarme dich – Bogna Bartosz (contralto)
Violinista – Alida Schat
The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir
Regente: Ton Koopman (ao órgão)
Em breve, teremos o Blog dos Compartilhamentos Musicais! Enquanto contamos os dias para o lançamento, você pode enviar comentários por email sobre qualquer CM que apreciou.
Grande abraço!
Renato
P.S.: Retirei o trecho abaixo da Wikipedia para quem quiser saber o que é uma ária.
Uma ária, no sentido restrito, é qualquer composição musical escrita para um cantor solista, tendo quase o mesmo significado de canção. Geralmente (mas não necessariamente) usa-se o termo "ária" quando está contida dentro de uma obra maior, como uma ópera, cantata ou oratório e "canção" quando é uma peça avulsa. No sentido amplo, uma ária pode ser destinada a mais de um cantor: para dois cantores, chama-se duo ou dueto; para três, trio ou terceto, para quatro, quarteto e assim sucessivamente. Por exemplo, Bach chamou o duo de tenor e contralto (Wie selig sind doch die) da Cantata BWV 80 de Ária.
No Barroco, esse termo também era usado para designar peças instrumentais, para orquestra ou solista, que constituíam parte de uma suíte. Um dos exemplos mais famosos é a Ária da Suíte nº 3 para orquestra (Ária da 4ª Corda), de Johann Sebastian Bach.