22/07/2010

Compartilhamento Musical 24

Oi, gente!

Estamos presenciando um fato interessantíssimo na música! Pesquisas recentes levaram ao ressurgimento de um instrumento musical chamado Violoncello da Spalla.

Há algumas décadas, o famoso violinista Sigiswald Kuijken teve papel fundamental no re-estabelecimento da técnica barroca de tocar violino. Em 1972 fundou a orquestra La Petite Bande, especialista em repertório barroco com instrumentos de época. (Você pode ouvi-los no Compartilhamento Musical 1.) Um ávido incentivador da chamada “performance historicamente orientada”, Kuijken começou a suspeitar que o que se sabia a respeito do violoncelo no período Barroco talvez merecesse reconsideração. Veja o seguinte trecho de uma entrevista:

“Normalmente, a parte do baixo era escrita ‘basso’ ou ‘basso continuo’ ou ‘violone’, e sempre assumimos que isso significava violoncelo. Agora eu acho que é hora de reconhecer que isso está errado e que não significa violoncelo, pelo menos não no sentido histórico restrito. Em definições de ‘violoncello’ em léxicos alemães e franceses de até mais ou menos 1730, ou mesmo depois, você somente acha menção de violoncelo sendo tocado da spalla, ou ‘no ombro’. Em Veneza e Bolonha, você pode achar pinturas em igrejas de músicos que tocam dessa forma. É quase tão grande quanto nosso violoncelo de hoje e é tocado como uma viola, obviamente não embaixo do queixo ou sobre o ombro esquerdo, o que seria impossível, mas contra o ombro direito com uma cinta ao redor do pescoço do músico. Os exemplos maiores vão além do ombro direito... (...) O instrumento é posicionado quase horizontalmente e ressoa de um modo totalmente diferente do violoncelo tradicional. (...)… em seu célèbre método [para tocar violino], Leopold Mozart nos diz que a Viola da Gamba é tocada entre as pernas, explicando que ‘hoje, até mesmo o violoncelo é tocado de tal forma’, o que implica que anteriormente não era.” (retirado do site Early Music World)

Em 2003, Kuijken indagou ao luthier Dmitry Badiarov sobre a possibilidade de reconstrução da “viola pomposa” (outro nome usado para se referir ao instrumento; às vezes encontro os termos “viola da spalla” e “violoncello piccolo da spalla”). Badiarov disse que, teoricamente, era possível. Juntamente com o construtor de cordas Mimmo Peruffo, Badiarov conseguiu trabalhar no instrumento, que hoje já pode ser ouvido em alguns CDs. O ressurgimento do instrumento foi um dos motivos que levou Masaaki Suzuki a regravar os Concertos de Brandemburgo. O próprio Sigiswald Kuijken, gravou as 6 suites de Bach, que hoje conhecemos como “6 Suites para Violoncelo Solo”, com o Violoncelo da Spalla. Ele acredita que este foi o instrumento para o qual Bach escreveu as suítes.

No vídeo que compartilho hoje, Kuijken aparece em um programa de televisão e toca trechos da Suíte No. 1. Aqui você vai poder ouvir o terceiro movimento. Deleite-se com o som desse novo velho instrumento!



Abraço,
Renato

P.S.: Há outros vídeos deste mesmo programa de TV disponíveis no YouTube: o Prelúdio da mesma Suíte e uma entrevista que Kuijken dá logo após a Courante aqui compartilhada. Acho que está em holandês. Se você entende essa língua...

A gravura acima foi feita por um violoncelista, um dos membros fundadores da Accademia Filarmonica di Bologna. Ele faz um desenho em uma das partituras do violoncelo do Opus 4 de Torelli. Note as dimensões do instrumento e seu posicionamento.

O luthier Dmitry Badiarov e a postura adotada atualmente

05/07/2010

Compartilhamento Musical 23

Oi, gente!

O Concerto para Piano e Orquestra No. 5, Opus 73, de Beethoven, também conhecido popularmente como “O Concerto do Imperador”, foi dedicado ao Arquiduque Rodolfo, patrono e aluno do compositor. A obra dura em torno de quarenta minutos, com seus três belíssimos movimentos.

Apesar de gostar da obra toda, lembro-me muito bem do impacto que o 2º movimento teve sobre mim em meados dos anos 90, uma época em que eu o ouvia praticamente sem cessar. Eu era capaz de colocar o CD para tocar o “Adagio un poco mosso” vez após vez. Essa música te toma pela mão e te leva para viajar um pouco.

Pretendo, no futuro, escrever comentários mais detalhados sobre este concerto e, quem sabe, postar os três movimentos completos. Pelo momento, gostaria apenas de compartilhar a beleza da música do 2º movimento sem muito dizer. Clique no vídeo e ouça a interpretação do competente Daniel Barenboim à frente da Staatskapelle Berlin.

Obs.: Aumente o volume de suas caixas acústicas mais que o costumeiro; o início da música é bem suave.



Abraço,
Renato
P.S.: Dedico o CM 23 a meu amigo Mauro Clark, apreciador de Beethoven e de Barenboim.