25/12/2012

Compartilhamento Musical 40

Oi, gente.

No Natal do ano passado estava em Leipzig, na Alemanha, e tive a oportunidade de ouvir ao vivo uma peça linda para coral. Na época, apenas fiquei extasiado com a beleza da música. Não conhecia nem o compositor e, infelizmente, nem o que dizia a letra. Neste Natal, quero compartilhá-la com vocês.

O Magnum Mysterium é um texto responsorial das Matinas de Natal. Vários compositores musicaram o trecho, que exponho mais abaixo no original em latim e em português.

A simplicidade da descrição me arrebata. As palavras, simples, humanas, limitadas, procuram, em vão, descrever um momento sublime: tarefa impossível! A virgem, Maria, deu à luz o Salvador, Jesus Cristo. Na manjedoura, o Criador do universo é contemplado por simples animais. A própria virgem devia estar absorta em seus pensamentos, pois foi achada digna de carregar em seu ventre o Salvador.

E é esse o grande mistério descrito no texto. Um momento de perplexidade!


Original em Latim

O magnum mysterium,
et admirabile sacramentum,
ut animalia viderent Dominum natum,
jacentem in praesepio!

Beata virgo, cujus viscera

meruerunt portare
Dominum Christum.

Alleluia!



Tradução para o português

Ó grande mistério,
e admirável sacramento*,
pois os animais viram o Senhor recém-nascido,
reclinado na manjedoura!

Bem-aventurada é a virgem, cujas entranhas

acharam-se dignas de carregar
o Senhor Jesus Cristo.

Aleluia!


* sacramento: algo de significado misterioso e sacro

A versão que ouviremos foi composta pelo americano Morten Lauridsen em 1994. A interpretação fica a cargo do Coro da Catedral de Winchester, na Inglaterra. O vídeo não tem uma qualidade muito boa, mas deixe-se arrebatar pela música!



Um ótimo período natalino a todos e uma passagem de ano com paz.

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Abraço,
Renato

28/10/2012

Compartilhamento Musical 39d


Olha! Ali, ali... São quatro besouros! Ou será um só?

Este é o último dos posts sobre “O Vôo do Besouro”... (Quem perdeu o primeiro pode clicar aqui; quem perdeu o segundo clique aqui; quem perdeu o terceiro, clique aqui.)

Nosso último besouro é um show de criatividade, mas, sei lá, pode haver quem diga que os músicos passaram um pouco da linha de fronteira com o mal gosto. Particularmente gostei muito do bem-humorado arranjo que o jovem clarinetista Martin Fröst e a excelente Malena Ernman executam com o pianista Niklas Sivelöv. Divirtam-se!

Olha o besouro!


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Abraço,
Renato

20/10/2012

Compartilhamento Musical 39c

Georges Cziffra (1921 - 1994)

Olha! Ali, ali... São quatro besouros! Ou será um só?

Este é o terceiro post de uma seqüência especial neste mês dedicado ao “Vôo do Besouro”... (Quem perdeu o primeiro pode clicar aqui; quem perdeu o segundo clique aqui.)

VIRTUOSE: 1 Pessoa dotada de excepcional habilidade técnica ou invulgar talento artístico. 2 Músico de notável habilidade interpretativa pessoal. 3 por ext Pessoa que soube elevar à arte uma disciplina corriqueira. (Fonte: Michaelis, dicionário online)

Como se já não fosse difícil a transcrição feita por Rachmaninoff, um pianista húngaro chamado Cziffra teve a idéia de dificultar o vôo para o besouro de Rimsky-Korsakov! Cziffra decide intercalar oitavas e tudo fica muito frenético. Quem interpreta este terceiro besouro para nós é a jovem virtuose chinesa Yuja Wang. Muito impressionante o que ela faz com o pobre do instrumento!

Olha o besouro!



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Abraço,
Renato

12/10/2012

Compartilhamento Musical 39b

As mãos de Sergei Vasilievich Rachmaninoff (1873 - 1943)
 
Olha! Ali, ali... São quatro besouros! Ou será um só?

Continuando a seqüência de posts sobre “O Vôo do Besouro”... (Quem perdeu o primeiro pode clicar aqui.)

Como falei no post passado, a peça foi transcrita e arranjada diversas vezes. Uma das transcrições mais famosas é a que Rachmaninoff fez para piano. “Rach” certamente foi um dos maiores pianistas do século passado. Possuía mãos enormes, que lhe permitiam tocar diversas configurações de acordes com grande destreza. Sua técnica era de uma clareza notável, contrapondo-se a vários pianistas que costumavam “embolar” as notas com o pedal do piano.

Hoje compartilho uma gravação histórica, feita em 1929. O próprio Rachmaninoff está tocando sua transcrição do “Vôo do Besouro”. Infelizmente, não temos o video, mas o áudio é uma raridade que vocês podem apreciar!

Olha o besouro!



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Abraço,
Renato

30/09/2012

Compartilhamento Musical 39a

 Nikolai Andreyevich Rimsky-Korsakov (1844 – 1908)

Olha! Ali, ali... São quatro besouros! Ou será um só?

Acho que quase todos vocês conhecem “O Vôo do Besouro”, escrito pelo russo Nikolai Rimsky-Korsakov como parte de sua ópera “O Conto do Czar Saltan”.

Este interlúdio foi transcrito inúmeras vezes para diversos tipos de instrumentação, o que me inspirou a fazer algo inédito durante este mês: Hoje compartilho a partitura do original de Rimsky-Korsakov, interpretada pela Orquestra Filarmônica de Berlin, sob a batuta de Zubin Mehta. Nas próximas semanas, seguirei postanto três outras versões, uma a cada novo Compartilhamento Musical.

Olha o besouro!



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Abraço,
Renato
P.S.:Quando encontrar o  mesmo vídeo com uma qualidade melhor, reposto-o.

31/08/2012

Compartilhamento Musical 38 (4 anos!!!)

Philipp Herreweghe

Oi, gente!

Antes que o mês de agosto acabe, gostaria de comemorar com vocês os 4 anos do Compartilhamento Musical! Hoje temos 280 inscritos na lista do Blog, que recebem um lembrete toda vez que posto algo novo. Gostaria muito de poder ser um blogueiro mais freqüente, mas até agora a produção está subordinada a meu tempo livre, que não é muito. Mesmo assim, o trabalho continua sendo feito com a mesma seriedade do início, 1 de agosto de 2008. Espero que tenha sido de valia aos curiosos pela música erudita.

Como tem sido o costume (à exceção do ano passado, que, infelizmente, deixei passar em branco), gosto de postar no aniversário do CM trechos da Paixão Segundo Mateus, de Johann Sebastian Bach, pois foi a obra que deu início aos Compartilhamentos. (Para ler os posts de aniversário escritos até agora, clique em CM 1, CM 15 e CM 26.)

O trecho que escolhi para hoje foi a abertura da “Paixão...”. Nela, percebe-se a imensa carga dramática que Bach delegou à música, que espelha, obviamente, toda a solenidade do sofrimento do Senhor Jesus Cristo, o Salvador, em seus momentos finais do ministério em sua primeira vinda.

Bach usa dois coros e duas orquestras. Perceba a organização deles na sala de concertos da Filarmônica de Köln (que tive o privilégio de visitar em 1998), no vídeo: um coro à esquerda e um à direita, envolvidos em perguntas e respostas (ex.: coro I “Vede!”; coro II “Quem?”; coro I “O noivo!”). Se você tiver um bom equipamento, perceberá isso mais nitidamente a partir de 3:12, bem como em vários outros momentos. Há também um grupo de sopranos entre os dois coros. Elas estão a cargo do ‘cantus firmus’, que costumava ser uma melodia já conhecida, com notas geralmente longas, e que servia de coluna vertebral para o desenvolvimento da polifonia da obra.
No vídeo, pus a tradução do cantus firmus entre colchetes para distingui-lo das demais vozes. (Alternativamente, na execução desta obra, alguns regentes optam por um coral com crianças para fazer a parte do cantus firmus. Fica lindíssimo o contraste entre os adultos dos dois coros e as vozes dos miudinhos!)

Quem conduz a execução hoje é um regente que admiro muito: o belga Philipp Herreweghe. Esse senhor, de nome difícil de pronunciar, iniciou seus estudos em medicina, preparando-se para uma carreira em psiquiatria na Universidade de Gent, ao mesmo tempo em que estudava no Conservatório de Gent. Começou seu trabalho como regente durante esse período, mas em 1970 fundou o Collegium Vocale Gent (o coro do vídeo de hoje) e decidiu deixar a medicina. Tornou-se um regente respeitadíssimo e é considerado um dos grandes especialistas em Bach. É um de meus favoritos, com certeza!




Aproveito a oportunidade de aniversário para compartilhar também o recebimento de minha segunda flauta doce de madeira.

Desta vez, uma contralto feita em Cocobolo, também chamada de Jacarandá do México, modelo Bressan, com o lá afinado em 415Hz, que costuma ser uma afinação apropriada para tocar repertório barroco.
Mais um trabalho excelente do luthier Marcos Ximenes!

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Grande abraço,
Renato

28/07/2012

Compartilhamento Musical 37

 Oi, gente!

Em abril estive no Rio de Janeiro e, em uma das noites, fui a um concerto de membros da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro: obras de Bach, Vivaldi e Biber. Quando ouvi a “Battalia”, deste último compositor, decidi imediatamente que seria o próximo Compartilhamento Musical e agora estou cumprindo a intenção!

Eu já tinha ouvido essa obra em um vídeo e achei interessantíssima, mas ‘ao vivo’ foi extraordinário! E os músicos da UFRJ estão de parabéns! 


Abaixo procuro resumir algumas informações sobre essa obra curiosíssima, o que credito a um artigo de Abgar Renault Neto. Vale à pena dar uma lida com calma e acompanhar o vídeo depois.

Heinrich Ignaz Franz Biber von Bibern (1644 – 1704) escreveu esta peça em 1673. A obra, em oito pequenos movimentos, é um perfeito exemplo de música programática, ou seja, uma narrativa, descrição de cenas e de personagens estruturando um roteiro:


Primeiro movimento: Uma fanfarra conclamatória: um exército chega a uma vila e conclama seus moradores “À batalha!”. Durante o movimento, pode-se perceber tanto uma entusiasmada resposta afirmativa, quanto um breve momento de dúvida. Na partitura, pede-se que os intérpretes percutam col legno as laterais dos instrumentos para imitar os passos dos soldados.

Segundo movimento: Leva por subtítulo “A Torpe Sociedade Do Humor Comum”. Aqui, os mosqueteiros bêbados, cada um, entoa uma melodia diferente ao mesmo tempo. As oito canções, de várias partes da Europa, tecem uma colcha de retalhos politonal. As melodias têm início em compassos e pulsos diferentes. A intenção é promover ao máximo a defasagem entre as vozes, retratando o comportamento dissoluto desses mercenários.

Terceiro movimento: Elegantes estocadas de floretes, onde o pizzicato (quando a corda do instrumento é percutida pelos dedos em vez de friccionada pelo arco) seria o tilintar das lâminas numa educada e inofensiva disputa de esgrima entre cavalheiros (certamente não mais os mosqueteiros do movimento anterior).

Quarto movimento: Tem o título “A Marcha”. Aqui, o violino e o violone (baixo) imitam, respectivamente, um flautim e um tambor, combinação típica do campo de batalha. Biber dá instruções para que se ponha uma folha de papel entre as cordas do instrumento que faz o baixo, para imitar essa sonoridade.

Quinto movimento: Único movimento ternário, com figuras pontuadas, produzindo a sensação do movimento de uma cavalgada. Aqui, pode-se re-encontrar os “galantes esgrimistas” em contraste com a dissoluta cacofonia do segundo movimento. Percebe-se também o contraste entre a rudeza do andamento da marcha (quarto movimento) e o elegante saltitar da cavalgada. Trata-se de dois grupos de indivíduos, duas classes sociais distintas: De um lado, nobres cavaleiros ou outros cidadãos de posse; de outro, a ralé das fileiras da infantaria a pé, formada pelos mercenários apátridas, rudes e pouco confiáveis, provavelmente complementada por camponeses sem outra opção.

Sexto movimento: Representa a despedida entre os soldados e suas famílias. Apesar de ter sido escrito em Ré Maior, Biber utiliza recursos diversos de modo a retratar melancolia. As frases parecem lamentosas, entrecortadas por soluços. Para Abgar Renault Neto, trata-se do Ré Maior mais triste da História...

Sétimo movimento:A Batalha”. Há uma palpitante pulsação durante todo o movimento, que sugere a inquietação do campo de batalha. Paralelamente, os violones seguem energicamente as instruções de Biber: “a batalha não deve ser tocada com o arco, mas com os dedos da mão direita, estalando com força a corda como um fragoroso tiro de canhão.” Os tiros se intensificam, conduzindo a batalha ao seu arrebatador e abrupto desfecho, na mínima final.

Oitavo movimento:O Lamento Dos Mosqueteiros Feridos” Os soldados feridos lamentam-se amargamente, afetos sugeridos pela harmonia, a mais complexa de toda a obra. As dissonâncias sugerem dor e destruição ao redor. Os sentimentos são conflitantes: os soldados tentam, em vão, resgatar a alegria e a euforia que os iludiu desde o início (tema da conclamação transformado em lamento, fúnebre). Um breve e dramático lamento se perde em meio às vozes que, por fim, se calam.

Quem nos brinda hoje com sua empolgação é Jean-Christophe Spinosi e seu Ensemble Matheus. Aumente o volume e: À batalha!

 

 

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Abraço,
Renato

25/07/2012

IX Semana de Música Sacra (SBRC)


Oi, gente!

Desde 2008 tenho participado da Semana de Música Sacra, promovida pelo Seminário Batista Regular do Cariri, no Crato. Todo mês de julho, crianças, jovens e adultos entram numa maratona com aulas de teoria musical, história da música, técnica vocal e instrumental, etc. Paralelamente, prepara-se um concerto a ser apresentado nos últimos dias do evento. Neste ano apresentamos duas apresentações: “Ao Encontro de Deus”, com uma compilação de hinos conhecidos, e seleções do “Messias”, de Handel.

 Orquestra e Coro da IX Semana de Música Sacra
do Seminário Batista do Cariri
regidos por Daniel de Sá
(Ensaio da Cantata "Ao Encontro de Deus")

Desde 2010, fui convidado pelo Pr. Carlos Renato de Lima Brito, organizador do evento, para trabalhar com formação de platéia, com sessões de “Compartilhamento Musical” visando desenvolver entre os alunos apreciação de repertório erudito. A resposta tem sido muito positiva e este já é o terceiro ano de contribuição, que trouxe também uma novidade: Foi realizado o Primeiro Recital de Professores. Na sexta-feira, dia 6 de julho, o corpo docente da Semana de Música Sacra apresentou-se em um recital didático para os alunos e também aberto ao público. Também fomos brindados com a presença da Profa. Karine Teles, que apresentou o recital e fez os comentários didáticos sobre as obras executadas. O repertório foi todo de música erudita. Foi o primeiro Compartilhamento Musical realmente ao vivo!

Para mim, foi um desafio organizar o recital. Tudo por email: escolha de repertório, dos músicos, esquemas de ensaio, etc. Mas foi um prazer e um privilégio. Abaixo listo o programa, cheio de gratidão em Cristo, para registro desse momento tão importante para o CM: 

 Georg Philipp Telemann (Magdeburgo, 1681 – Hamburgo, 1767)
Sonata para duas flautas em fá maior, Opus 2 No. 1
I – Dolce
II – Allegro
III – Largo
IV – Vivace
Daniel Sá – flauta transversa
Renato Costa – flauta doce

Johann Sebastian Bach (Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750)
Ária  “Aus Liebe will mein Heiland sterben”
da “Paixão Segundo Mateus”
Olivia Ferguson – soprano
Renato Costa – flauta doce
Jailson Vieira – órgão

Ária “Bist du bei mir, geh ich mit Freuden”
do “Caderno de Anna Magdalena”
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Ária “Jesus soll mein erstes Wort”
da Cantata BWV 171
Olivia Ferguson – soprano
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

Partita No. 2, BWV 1002 – Tempo di borea
Pr. Renato Brito – violão

Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo, 1756 – Viena, 1791)
Sonata para Violino e Piano, KV 301
I – Allegro con spirito
II – Allegro
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

Ludwig van Beethoven (Bonn, 1770 – Viena, 1827)
Ich liebe dich, so wie du mich, WoO 123
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Franz Schubert (Viena, 1797 – 1828)
Lachen und weinen D. 777
Heidenröslein D. 257
Olivia Ferguson – soprano
Renato Costa – piano

Felix Mendelssohn Bartholdy (Hamburgo, 1809 – Leipzig, 1847)
Ária “Jerusalem, Jerusalem!”
do Oratório “Paulus”, Op. 36
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Fryderyk Franciszek Chopin
(Żelazowa Wola, Polônia, 1810 – Paris, 1849)
Valsa em si menor Opus post. 69 No. 2 BI 35
Joy Baxter – piano

Johannes Brahms (Hamburgo, 1833 – Viena, 1897)
Dança Húngara No. 5 (piano a 4 mãos)
Jailson Vieira
Renato Costa

Arvo Pärt (Paide, Estônia, 1935-)
Spiegel im spiegel [“Espelho no espelho”]
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

 

PRIMEIRO RECITAL DO COMPARTILHAMENTO MUSICAL
Foto 1 (da esq. para a dir.): Jailson Vieira, Stephen Lounsbrough,
Olivia Ferguson, Joy Baxter, Karine Teles, Wandemberg Alencar, eu.
Foto 2 (da esq. para a dir.): Pr. Renato Brito, Daniel de Sá...

Muito grato a Deus pela oportunidade,
Renato Costa