28/07/2012

Compartilhamento Musical 37

 Oi, gente!

Em abril estive no Rio de Janeiro e, em uma das noites, fui a um concerto de membros da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro: obras de Bach, Vivaldi e Biber. Quando ouvi a “Battalia”, deste último compositor, decidi imediatamente que seria o próximo Compartilhamento Musical e agora estou cumprindo a intenção!

Eu já tinha ouvido essa obra em um vídeo e achei interessantíssima, mas ‘ao vivo’ foi extraordinário! E os músicos da UFRJ estão de parabéns! 


Abaixo procuro resumir algumas informações sobre essa obra curiosíssima, o que credito a um artigo de Abgar Renault Neto. Vale à pena dar uma lida com calma e acompanhar o vídeo depois.

Heinrich Ignaz Franz Biber von Bibern (1644 – 1704) escreveu esta peça em 1673. A obra, em oito pequenos movimentos, é um perfeito exemplo de música programática, ou seja, uma narrativa, descrição de cenas e de personagens estruturando um roteiro:


Primeiro movimento: Uma fanfarra conclamatória: um exército chega a uma vila e conclama seus moradores “À batalha!”. Durante o movimento, pode-se perceber tanto uma entusiasmada resposta afirmativa, quanto um breve momento de dúvida. Na partitura, pede-se que os intérpretes percutam col legno as laterais dos instrumentos para imitar os passos dos soldados.

Segundo movimento: Leva por subtítulo “A Torpe Sociedade Do Humor Comum”. Aqui, os mosqueteiros bêbados, cada um, entoa uma melodia diferente ao mesmo tempo. As oito canções, de várias partes da Europa, tecem uma colcha de retalhos politonal. As melodias têm início em compassos e pulsos diferentes. A intenção é promover ao máximo a defasagem entre as vozes, retratando o comportamento dissoluto desses mercenários.

Terceiro movimento: Elegantes estocadas de floretes, onde o pizzicato (quando a corda do instrumento é percutida pelos dedos em vez de friccionada pelo arco) seria o tilintar das lâminas numa educada e inofensiva disputa de esgrima entre cavalheiros (certamente não mais os mosqueteiros do movimento anterior).

Quarto movimento: Tem o título “A Marcha”. Aqui, o violino e o violone (baixo) imitam, respectivamente, um flautim e um tambor, combinação típica do campo de batalha. Biber dá instruções para que se ponha uma folha de papel entre as cordas do instrumento que faz o baixo, para imitar essa sonoridade.

Quinto movimento: Único movimento ternário, com figuras pontuadas, produzindo a sensação do movimento de uma cavalgada. Aqui, pode-se re-encontrar os “galantes esgrimistas” em contraste com a dissoluta cacofonia do segundo movimento. Percebe-se também o contraste entre a rudeza do andamento da marcha (quarto movimento) e o elegante saltitar da cavalgada. Trata-se de dois grupos de indivíduos, duas classes sociais distintas: De um lado, nobres cavaleiros ou outros cidadãos de posse; de outro, a ralé das fileiras da infantaria a pé, formada pelos mercenários apátridas, rudes e pouco confiáveis, provavelmente complementada por camponeses sem outra opção.

Sexto movimento: Representa a despedida entre os soldados e suas famílias. Apesar de ter sido escrito em Ré Maior, Biber utiliza recursos diversos de modo a retratar melancolia. As frases parecem lamentosas, entrecortadas por soluços. Para Abgar Renault Neto, trata-se do Ré Maior mais triste da História...

Sétimo movimento:A Batalha”. Há uma palpitante pulsação durante todo o movimento, que sugere a inquietação do campo de batalha. Paralelamente, os violones seguem energicamente as instruções de Biber: “a batalha não deve ser tocada com o arco, mas com os dedos da mão direita, estalando com força a corda como um fragoroso tiro de canhão.” Os tiros se intensificam, conduzindo a batalha ao seu arrebatador e abrupto desfecho, na mínima final.

Oitavo movimento:O Lamento Dos Mosqueteiros Feridos” Os soldados feridos lamentam-se amargamente, afetos sugeridos pela harmonia, a mais complexa de toda a obra. As dissonâncias sugerem dor e destruição ao redor. Os sentimentos são conflitantes: os soldados tentam, em vão, resgatar a alegria e a euforia que os iludiu desde o início (tema da conclamação transformado em lamento, fúnebre). Um breve e dramático lamento se perde em meio às vozes que, por fim, se calam.

Quem nos brinda hoje com sua empolgação é Jean-Christophe Spinosi e seu Ensemble Matheus. Aumente o volume e: À batalha!

 

 

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Abraço,
Renato

25/07/2012

IX Semana de Música Sacra (SBRC)


Oi, gente!

Desde 2008 tenho participado da Semana de Música Sacra, promovida pelo Seminário Batista Regular do Cariri, no Crato. Todo mês de julho, crianças, jovens e adultos entram numa maratona com aulas de teoria musical, história da música, técnica vocal e instrumental, etc. Paralelamente, prepara-se um concerto a ser apresentado nos últimos dias do evento. Neste ano apresentamos duas apresentações: “Ao Encontro de Deus”, com uma compilação de hinos conhecidos, e seleções do “Messias”, de Handel.

 Orquestra e Coro da IX Semana de Música Sacra
do Seminário Batista do Cariri
regidos por Daniel de Sá
(Ensaio da Cantata "Ao Encontro de Deus")

Desde 2010, fui convidado pelo Pr. Carlos Renato de Lima Brito, organizador do evento, para trabalhar com formação de platéia, com sessões de “Compartilhamento Musical” visando desenvolver entre os alunos apreciação de repertório erudito. A resposta tem sido muito positiva e este já é o terceiro ano de contribuição, que trouxe também uma novidade: Foi realizado o Primeiro Recital de Professores. Na sexta-feira, dia 6 de julho, o corpo docente da Semana de Música Sacra apresentou-se em um recital didático para os alunos e também aberto ao público. Também fomos brindados com a presença da Profa. Karine Teles, que apresentou o recital e fez os comentários didáticos sobre as obras executadas. O repertório foi todo de música erudita. Foi o primeiro Compartilhamento Musical realmente ao vivo!

Para mim, foi um desafio organizar o recital. Tudo por email: escolha de repertório, dos músicos, esquemas de ensaio, etc. Mas foi um prazer e um privilégio. Abaixo listo o programa, cheio de gratidão em Cristo, para registro desse momento tão importante para o CM: 

 Georg Philipp Telemann (Magdeburgo, 1681 – Hamburgo, 1767)
Sonata para duas flautas em fá maior, Opus 2 No. 1
I – Dolce
II – Allegro
III – Largo
IV – Vivace
Daniel Sá – flauta transversa
Renato Costa – flauta doce

Johann Sebastian Bach (Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750)
Ária  “Aus Liebe will mein Heiland sterben”
da “Paixão Segundo Mateus”
Olivia Ferguson – soprano
Renato Costa – flauta doce
Jailson Vieira – órgão

Ária “Bist du bei mir, geh ich mit Freuden”
do “Caderno de Anna Magdalena”
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Ária “Jesus soll mein erstes Wort”
da Cantata BWV 171
Olivia Ferguson – soprano
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

Partita No. 2, BWV 1002 – Tempo di borea
Pr. Renato Brito – violão

Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo, 1756 – Viena, 1791)
Sonata para Violino e Piano, KV 301
I – Allegro con spirito
II – Allegro
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

Ludwig van Beethoven (Bonn, 1770 – Viena, 1827)
Ich liebe dich, so wie du mich, WoO 123
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Franz Schubert (Viena, 1797 – 1828)
Lachen und weinen D. 777
Heidenröslein D. 257
Olivia Ferguson – soprano
Renato Costa – piano

Felix Mendelssohn Bartholdy (Hamburgo, 1809 – Leipzig, 1847)
Ária “Jerusalem, Jerusalem!”
do Oratório “Paulus”, Op. 36
Joy Baxter – soprano
Wandemberg Alencar – piano

Fryderyk Franciszek Chopin
(Żelazowa Wola, Polônia, 1810 – Paris, 1849)
Valsa em si menor Opus post. 69 No. 2 BI 35
Joy Baxter – piano

Johannes Brahms (Hamburgo, 1833 – Viena, 1897)
Dança Húngara No. 5 (piano a 4 mãos)
Jailson Vieira
Renato Costa

Arvo Pärt (Paide, Estônia, 1935-)
Spiegel im spiegel [“Espelho no espelho”]
Stephen Lounsbrough – violino
Renato Costa – piano

 

PRIMEIRO RECITAL DO COMPARTILHAMENTO MUSICAL
Foto 1 (da esq. para a dir.): Jailson Vieira, Stephen Lounsbrough,
Olivia Ferguson, Joy Baxter, Karine Teles, Wandemberg Alencar, eu.
Foto 2 (da esq. para a dir.): Pr. Renato Brito, Daniel de Sá...

Muito grato a Deus pela oportunidade,
Renato Costa