24/12/2008

Compartilhamento Musical 8

Oi, gente!

O Compartilhamento Musical Natalino deste ano apresenta o Oratório de Natal de Johann Sebastian Bach, BWV 248. É uma grande obra composta de seis cantatas, escrita para o período de Natal de 1734. O tempo total do oratório é de quase três horas. Hoje em dia, costuma-se apresentá-lo de uma vez, ou em duas seções com três cantatas cada. Na época de Bach, cada cantata era apresentada em um determinado dia festivo no período do Natal. A primeira cantata, para o dia 25, descreve o nascimento de Jesus; a segunda, para o dia 26, descreve a anunciação dos anjos aos pastores; a terceira, para o dia 27, a adoração dos pastores; a quarta, para o dia de ano novo, trata da circuncisão de Jesus; a quinta, para o primeiro domingo do ano novo, a viagem dos magos do oriente; a sexta, para o dia da Epifania, a adoração dos magos.

Hoje, vou me restringir a sugerir a audição da abertura da primeira cantata. É uma peça musical cheia de júbilo! Com muita empolgação, Bach conclama os crentes em Cristo a louvar a Deus pelo nascimento do Salvador.

Abaixo, posto a letra original em alemão e uma tradução livre em português.

Jauchzet, frohlocket! auf, preiset die Tage,
Rejubilem, exultem!, glorifiquem os dias,
Rühmet, was heute der Höchste getan!
Louvem o Altíssimo pelo que fez hoje!
Lasset das Zagen, verbannet die Klage,
Deixem de lado o medo, expulsem o lamento,
Stimmet voll Jauchzen und Fröhlichkeit an!
Entoem um cântico cheio de júbilo e graça
Dienet dem Höchsten mit herrlichen Chören,
Sirvam o Altíssimo com coros gloriosos!
Laßt uns den Namen des Herrschers verehren!
Louvemos o nome do Senhor!

Estou disponibilizando duas opções para o vídeo
Jauchzet, frohlocket!. Escolha uma (ou as duas)...

1 - Esta versão é com o maestro Nikolaus Harnoncourt. Não gosto da produção do vídeo, mas o som está ótimo, além da excelente interpretação! Tem também uma coisa curiosa aqui: Notem que não há mulheres no coral, apenas meninos. Na época de Bach, era costume os garotinhos cantarem as vozes de soprano e contralto e os mais crescidos as de tenor e baixo (leia o Compartilhamento Musical 1 para mais detalhes). Só para constar, conheci Harnoncourt pessoalmente, em Berlin, em janeiro de 1998... Ai, que saudade daquela viagem!



2 - Esta versão é com o maestro Sir John Eliot Gardiner. Interpretação excelente! Gardiner sempre preza pela empolgação nas interpretações de Bach com a English Baroque Soloists e o Monteverdi Choir.



Grande abraço,
Renato

12/12/2008

Compartilhamento Musical 7 (adendo)

Oi, gente!

Confesso que "excedi-me" um pouco no Compartilhamento Musical 7, sobre a
Fuga em sol menor BWV 578, de Johann Sebastian Bach. Alguns leitores não conseguiram entender bem o que é um sujeito, quanto menos perceber as entradas dele na fuga. Deixe-me tornar isso um pouco mais claro:

Primeiro, vamos rever o que eu disse:

Tudo começa com a exposição de um tema (chamado de sujeito), que é uma melodia declarada por uma das vozes isoladamente.

Mas se não há ninguém cantando, como é que eu devo ouvir "
vozes"? Calma! Vamos aprendendo... O que é uma voz? No Compartilhamento Musical 7 (Daqui por diante, vou fazer uso da siga CM.), quando eu falei "...uma melodia declarada por uma das vozes...", a palavra "voz" quer dizer o mesmo que "linha melódica". Se houver quatro pessoas cantando, há quatro linhas melódicas. Cada pessoa pode entoar uma melodia diferente e, no conjunto, podemos ter uma bela harmonia com 4 linhas melódicas (ou vozes) distintas. Só que instrumentos musicais também têm vozes! Então, na fuga de Bach que ouvimos, as diferentes vozes eram entoadas pelo mesmo instrumento: um órgão. A primeira voz iniciou-se com a mão direita do organista; a segunda, com sua mão esquerda; algum tempo depois, outra voz está nos pés do organista. Pense... Uma voz nos pés! Só em música mesmo!

Mesmo que você não tenha entendido tudo, tenho certeza que você não chegou ao ponto que um amigo chegou. Abaixo, posto seu divertido comentário!

Entendi!

É como se fosse um filme de suspense!

O sujeito está sempre à espreita. Ele se chama Barroso (vc escreveu barroco!) e é mestre em imitação. Talvez por isso possamos confundir o músico com o tal Barroso, um assassino traficante de órgãos. Talvez as tomadas dos pedais sejam do Barroso. Então, depois que o músico se expôs, a tensão foi crescendo até o momento do golpe fatal do Barroso, o tal sujeito. Só não consegui ouvir as vozes que, por certo, clamavam por socorro.

Só lamento o vídeo ter acabado antes do desfecho, quando o sujeito, Barroso, enfim mata o músico e foge num dia de pouco sol em sua BMW 578 (vc escreveu BWV!). Após algum tempo, finalmente o sujeito é preso mas confunde a polícia, com suas múltiplas declarações, o que é até compreensível, já que Barroso é um mestre em imitações.

Tudo bem que é um filme de época, já que se passa entre os séculos XVII e primeira metade do XVIII. Mas achei o nome do assassino pouco comercial. "Barroso" é meio anti climático.

Viu, não foi tão difícil assim!

Então, se você acha que não tinha entendido, não se estressa!

Estou muito feliz escrevendo esses Compartilhamentos. Temos 84 inscritos até o momento e esta semana tive mais 44 assinaturas, totalizando 128 na lista para o CM número 8, futuramente, se for da vontade de Deus. Comentários como os que posto abaixo são muito legais de ler:

Estou começando a me sentir menos ignorante em termos musicais. Vou incentivar (minha filha) a ler seus compartilhamento, também.
(após ler CM No. 7)

...me senti na Áustria. Obrigada, achei bonito e empolgante, só que me criou um problema... Aumentou minha vontade de visitar as terras anglo-saxônicas. Ai de mim! Beijão...
(sobre CM No. 6 – Mozart)

Amigo, que negócio lindo!!!
Mas você tem razão – preciso ouvir mais vezes pra perceber isso tudo.
(sobre a fuga do CM No. 7)

Oi Renato, só passando pra dizer que seus “Compartilhamentos Musicais” são ótimos... Gostei muito.
(recém-ingresso na lista de emails, após ler os CMs do No. 1 ao 7)

Houve também quem ficasse empolgado com o órgão. Eu acho esse instrumento maravilhoso! No passado, em algumas igrejas, era o instrumento por excelência. De bônus, forneço agora um link para mais um vídeo com Ton Koopman. Desta vez, vocês vão ouvir a Tocata em ré menor, BWV 565. Ela é bem conhecida e muitos a associam à história do "Fantasma da Ópera". Só que ela não tem absolutamente nada a ver nem com ópera nem com fantasma (eu, heim...)! Na verdade, a obra é uma tocata seguida por uma fuga. Aqui, ela está sem sua fuga correspondente. Mas chega de fuga! Pelo menos por enquanto. Um outro dia posto um comentário sobre essa obra com mais calma. Aproveitem!



Se souberem de alguém que deseja entrar nos Compartilhamentos Musicais, é só pedir para mandar um email para renatobdacosta@gmail.com pedindo para entrar. Por gentileza, peça para a pessoa mencionar quem indicou o CM.

Grande abraço, e até o CM 8, semana que vem, se Deus quiser.
Renato

05/12/2008

Compartilhamento Musical 7

Oi, gente!

Este Compartilhamento Musical está bem desafiador! Vou ter que mencionar alguns conceitos técnicos, mas peço paciência e persistência. Vai valer à pena!

Hoje gostaria de apresentar a vocês a
Fuga. Calma, não estou conclamando ninguém a pular os muros de canto nenhum! Fuga é um estilo de composição que tem origem em técnicas de imitação do século XVI, mas foi no período barroco (séculos XVII e primeira metade do XVIII) que se consagrou como atividade de composição importante. Imitação refere-se a repetições de material musical já apresentado na música. Basicamente, uma "frase musical" é cantada ou tocada por uma voz ou instrumento e, depois de certo tempo, outra voz ou outro instrumento apresenta a mesma melodia enquanto a primeira continua seu desenvolvimento.

A fuga deriva desse tipo de técnica, só que ela é bem mais complexa. Ela obedece a regras muito estritas, que fazem dela um gênero bastante difícil. Como eu não sou expert em fuga (apenas as aprecio), não vou entrar em detalhes sobre essas regras, mas pensei que seria interessante convidar vocês para fazer um passeio comigo em uma fuga. Não vamos mergulhar profundo, mas faço o convite para "molharmos ao menos nossos pés" nesse mar. Primeiro, vou explicar o que estamos procurando, depois vou dar dicas práticas para vocês aproveitarem mais o vídeo.

Tudo começa com a
exposição de um tema (chamado de sujeito), que é uma melodia declarada por uma das vozes isoladamente. Uma segunda voz entra, então, “cantando” o mesmo sujeito, mas noutra tonalidade, enquanto a primeira voz continua desenvolvendo. As vozes restantes entram, uma a uma, cada uma iniciando com o mesmo sujeito. O restante da fuga desenvolve o material posterior utilizando todas as vozes e, usualmente, múltiplas declarações do sujeito.

Vamos ouvir a
Fuga em sol menor BWV 578, de Johann Sebastian Bach. Foi nas mãos desse gênio que a fuga atingiu o ápice de sua maturidade no Barroco. O que proponho a vocês? Vamos procurar perceber somente as entradas do sujeito (tema)! Vai ser fácil porque eu anotei abaixo as vezes que ele aparece e as contagens do vídeo em minutos e segundos. Primeiro, você vai ouvir a primeira melodia (o sujeito), que o organista vai tocar com sua mão direita logo no início. Quando a mão esquerda entrar em ação, é porque vai entrar a segunda voz, com o sujeito novamente. A mão direita vai continuar seu caminho. Siga o roteiro abaixo:

0:00 - início - mão direita - primeira entrada do sujeito
0:15 - mão esquerda entra - segunda entrada do sujeito
0:32 - mais uma vez
0:45 - desta vez, o sujeito aparece nos pedais do órgão
1:06 - o que chamo de "alarme falso": o sujeito aparece, mas não todo
1:27 - mais uma vez
1:48 - sujeito na pedaleira de novo
2.14 - outra vez, mas está bem escondido aqui
2.47 - de novo nos pedais

* Claro que isso não é uma análise técnica de uma fuga. Há outras fases que não mencionei. Meu objetivo é contribuir com o aprimoramento de sua sensibilidade musical. Aos poucos, progredimos!



Se você achou a coisa toda muito confusa (o que possivelmente vai acontecer), não se preocupe. Veja o vídeo mais vezes. O que propus hoje foi só um exercício; não se esqueça de que ouvir música não se restringe a um mero exercício matemático. Ouvir música é apreciar o belo. Se você não conseguiu "ver" essas entradas de sujeito, não esquenta!

E quem não conhecia este instrumento magnífico, trata-se de um órgão. E esse é dos bons! O organista é, em minha opinião, o melhor hoje vivo. Gosto deTon Koopman porque ele deixa tudo muito interessante. Essa fuga, além de ser muito bem composta, tem a eletrizante empolgação desse holandês especialista em barroco!

Mais uma vez, gostaria de encorajá-los a escrever comentários sobre os Compartilhamentos Musicais. Será um prazer ouvir suas opiniões, dúvidas e sugestões.

Grande abraço,
Renato