08/03/2011

Compartilhamento Musical 30

Oi, gente!

No Compartilhamento Musical 28, sobre Rameau, uma leitora se assombrou com aquele instrumento de teclado que nunca tinha visto nem ouvido: o cravo. Prometi a ela que dedicaria o próximo CM ao instrumento.

Todo mundo sabe reconhecer um piano. No entanto, já é um pouco difícil dizer o mesmo a respeito do cravo, instrumento muito presente na época do Barroco. Pode ser que você veja um e pense que é um piano. Uma diferença importante entre os dois instrumentos é o mecanismo através do qual o som é produzido. As cordas de um piano são percutidas por uma espécie de martelo, que é acionado quando o músico pressiona uma tecla. Já no cravo, as cordas são percutidas após o toque de uma tecla, mas o mecanismo belisca a corda em vez de martelá-la. Uma conseqüência disso tem a ver com dinâmica do som. Enquanto no piano o músico pode obter um som forte ou suave, dependendo da força que aplica sobre a tecla, no cravo obtemos sempre a mesma intensidade, devido à diferença no mecanismo de produção do som. Para suprir essa limitação, alguns cravos têm jogos de cordas diferentes, que associam-se a teclados diferentes num mesmo instrumento. Por exemplo, em um mesmo cravo, podemos obter um som rico e vigoroso usando o teclado principal e, logo acima deste, outro teclado é usado para obterem-se sons mais suaves.

Alguns pensam que o cravo é o antecessor do piano. Eu também sou culpado, pois passei a vida dizendo isso, mas descobri recentemente que não é verdade (História da Música Ocidental – Jean & Brigitte Massin, Editora Nova Fronteira). São apenas primos com um ancestral comum: um instrumento chamado saltério, derivado da harpa, que podia ser arranhado com a unha ou com um plectro (uma espécie de palheta). O piano descende do saltério via um instrumento chamado dulcimer, que era percutido por pequenos martelos. Ao dulcimer acrescentou-se um teclado, com transmissão direta entre a tecla e o martelo. Daí originou-se o pianoforte, em meados do século XVIII. O piano suplantou o cravo porque correspondia a certo tipo de sensibilidade própria ao final do século. O cravo também descende do saltério, mas tem uma linhagem diferente. Vem da espineta, que introduziu um mecanismo ao saltério que lhe arranhava as cordas. No século XVI, da espineta veio o cravo, que também poderia ter um segundo teclado, trazendo a possibilidade de mudança de registro, como descrevemos acima.

Abaixo você pode visualizar os instrumentos que deram origem ao cravo e ao piano. Tratam-se de exemplos, pois cada instrumento pode se apresentar com aparências diversas:


Exemplo de harpa


Exemplo de saltério


O dulcimer descende do saltério e deu origem ao pianoforte. Por esta foto, obviamente, é difícil perceber isso, pois houve ainda vários estágios entre o instrumento aqui apresentado e o que hoje conhecemos como piano.


A espineta descende do saltério e deu origem ao cravo. Dá até para fazer um exercício de imaginação e tentar 'ver' uma harpa dentro desta espineta.

Hoje ouviremos Ton Koopman interpretando o primeiro dos três movimentos da Tocata BWV 916, em Sol maior, de Johann Sebastian Bach, ao cravo.


Aproveitem!



Deixe seu comentário após ver o vídeo.

Abraço,
Renato

7 comentários:

Eliane Vieira disse...

Liiiindo!!! Obrigada por este post!

Patrícia Vieira disse...

Amei o post. Uma sugestão: seria possível colocar a imagem dos instrumentos que vc fala nos post? Por exemplo, fiquei imaginando um saltério, a harpa... Acho q seria interessante vê-los, principalmente para quem, assim como eu, é totalmente leigo.

humberto couto disse...

Prezado irmão Renato. Assisti com
muita atenção o vídeo. Achei maravi-
lhoso. Mesmo sendo um modesto estu-
dante de piano, tinha conhecimento
até então, que o piano tinha sido
derivado do cravo. Agradeço penhora-
damente pela preciosa informação.
Meu caro Renato, tenho sentido a
falta de sua participação na música
da IBM, tanto tocando instrumentos
musicais, quanto regendo o coral.
Faço votos ao Espírito Santo que o
motive, novamente, a dedicar os
seus valorosos talentos musicais a
nossa amada Igreja. Saudações em
Cristo.

Maria Angélica disse...

olá!parabéns pelo blog!
suas postagens são de muito proveito,Para quem vive pela musica principalmente.
Obrigada pelos emails!

Ricardo Probo disse...

Achei super engrandecedora a sua explanação sobre este instrumento tão interessante e maravilhoso. Obrigado por nos educar numa área de tanta sensibilidade e que nos arrebata de tantas formas. A música clássica e seus instrumentos falam à minha alma. Mais uma vez obrigado.

Unknown disse...

Muito bem esplicado obrigado .
Me falaram q cravo era uma outra coisa.

Unknown disse...

Muito bem esplicado obrigado .
Me falaram q cravo era uma outra coisa.